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O Paço do Duque e a placa incómoda

Aqui há uns anos os vendedores da memória resolveram requalificar um casarão em ruínas existente ali para os lados do Chiado num condomínio de luxo. O casarão era a antiga sede da PIDE e, além do mais, afixada na parede estava uma placa que lembrava o último crime da PIDE: o metralhar de gente inocente que provocou o único sangue do dia 25 de Abril de 1974

Contra ventos e marés o condomínio fez-se e o projecto-compromisso de ali manter um memorial da polícia política de Salazar foi, como o socialismo de Soares, metido na gaveta. Até mesmo a pobre da placa foi removida. Para obstar -dizem - a algum sobressalto nocturno dos ilustres moradores de tão nobre condomínio.

Novos protestos e a placa lá acabou por ser recolocada. A uma altura que me lembra o título do blog de um amigo meu e expressão que usávamos nos idos de 70 para designar a atitude de não levantar problemas: "rente à relva".

Novos protestos de uns tipos chatos do "Não Apaguem a Memória" levaram a um "reposicionamento" da placa. Reposicionamento é uma palavra toda moderna que costuma querer significar que se muda alguma coisa para nada mudar. Foi o que se fez. A placa subiu, subiu, como o balão do Festival, e ficou lá em cima numa altura conveniente onde ninguém dê por ela.

Um dia talvez ( seguramente! ) a placa seja colocada à altura dos olhos de quem passa e as letras pintadas para que fiquem legíveis. Hoje já não existe a conveniente ajuda da PIDE para calar os chatos que insistem em protestar.

Ficará é claro a história daqueles para quem as razões do lucro têm mais valor que a memória do sofrimento de um povo.

Fotos por Raimundo Narciso

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