Avançar para o conteúdo principal

Sócrates e o centralismo democrático

A prática do PS, do seu governo e do seu primeiro-ministro José Sócrates, aproxima-se cada vez mais da prática mais ortodoxa do centralismo democrático. Na sua vertente mais centralista que democrática, e ao bom velho estilo PCP, as ideias e projectos são discutidas numa perspectiva exclusiva de cima para baixo. Os princípios são apresentados pelo líder e não são, no seu essencial, discutíveis pelos subordinados. Poderão, quando muito, ser alvo de crítica no que aos pormenores concerne.

Assim é com a Ota, mas também com o TGV, as reformas da Saúde, da Educação, da Administração Pública, entre tantos outros. Postulada a solução, esta é apresentada como saída única, os adversários denunciados como contra-revolucionários - ou no caso, contra-reformadores -, as objecções identificados como incompreensões da genialidade subjacente.

Por outro lado temos as denúncias de "desvios fraccionistas". Assim foi com Manuel Alegre, assim é com Helena Roseta, assim será com quem ousar levantar a voz contra a "linha oficial" do chefe. Queimados na praça pública, submetidos uns, expurgados, por livre vontade ou não, outros.

Sinal dos tempos é também o episódio rocambolesco da DREN. Mais do que um caso isolado de um comisário político com excesso de zelo, esta situação é bem ilustrativa da mentalidade que insidiosamente se foi instalando no Estado e na Sociedade. A coisa só é possível por, na cabeça da Sr. Directora, se ter enraizado a noção de que tal atitude agradaria ao chefe e que não seria penalizada por te-la tomado. As primeiras tomadas de posição da Ministra e do grupo parlamentar do PS, parecem indiciar que de certa forma a sra. tinha razão. Provavelmente, e por via do incómodo causado, a sr.ª será sacrificada. Mas o mal está feito.

Assim lá vamos "cantando e rindo" para uma espécie de Estado Novo democrático, orientado por um novo Salvador da Pátria, desta vez escolhido livremente pelo lusitano povo. O mesmo povo que escolheu como o "maior português de todos os tempos" o ditador de Santa Comba.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

BullyinGR

"I care not what puppet is placed upon the throne of England to rule the Empire on which the sun never sets. The man who controls Britain's money supply controls the British Empire, and I control the British money supply."  Nathan Mayer Rothschild, 1815 Dita há exactamente dois séculos atrás pelo funding father do capitalismo global, esta é hoje mais do que nunca a máxima dos gurus grandes e minúsculos da chamada economia liberal e das leis dos "mercados". Os serventuários do grande capital encaram a democracia como o melhor sistema sempre e quando sejam eles ou os seus amigos a ganhar. Para esta gente, um governo que, ainda que de forma tímida - e é isso que o governo grego é - lhes faça frente é algo de inaceitável. O folhetim a que vimos assistindo e a que, certamente por piada, chamam negociação, só terá paralelo com as conferencias que sucederam ao final da I Grande Guerra e que culminaram no tratado de Versalhes. As exigências drásticas ai impostas à Al...

Vemo-nos gregos para pagar

O Manel dava voltas e mais voltas na cama, sem conseguir dormir. A Maria, impedida de dormir pelas voltas do marido pergunta-lhe: "Atão Manel, que se passa homem?", "Ai mulher, amanhã vence a letra de 500 contos ao vizinho Alberto e eu não tenho dinheiro para lhe pagar." "Ai, então é isso?", responde-lhe a Maria. "Pera ai que eu já resolvo o problema." A Maria levanta-se e, após alguns minutos, volta decidida: " Vá Manel, já podes dormir descansado!", "Então Maria??!!", "Olha fui bater à porta do vizinho e dizer-lhe que não tens dinheiro para lhe pagar, agora quem não dorme é ele!" Vale tudo para dobrar a escolha de um povo. A ameaça, a chantagem, a tentativa de suborno. Habituados a yes-men subservientes os DDTs europeus espumam de raiva com os resultados das eleições gregas. Para esta gente a democracia só é válida quando os povos votam de acordo com os seus desejos. Para a corte da Sra Merkel a verdadeira votação ...

De Frost a Seeger

Recentes citações de um amigo vieram recordar-me um autor que já não lia há coisa de três décadas: Robert Frost. Acudiu-me à memória um poema que me marcou, "On a Tree Fallen Across the Road", uma alegoria sobre as surpresas que a vida nos reserva e a nossa capacidade de as superar And yet she knows obstruction is in vain: We will not be put off the final goal We have it hidden in us to attain, Not though we have to seize earth by the pole E como os pensamentos são como as cerejas, o poema de Frost levou-me de imediato à canção de Pete Seeger que se tornou num dos hinos mais fortes do Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos dos anos 60. Com a diferença - essencial! - de que aqui a mensagem já não é individual mas colectiva: "we shall overcome, some day"